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Vaticano confirma existência de relatório sobre Vatileaks, mas não relaciona fato à renúncia do papa

Do UOL, em São Paulo

21/02/2013 15h17

A uma semana da renúncia do papa Bento 16, marcada para 28 de fevereiro, os jornais italianos voltaram a relacionar a decisão do pontífice com a investigação do vazamento de documentos confidenciais da Santa Sé, chamada de Vatileaks. Na edição desta quinta-feira (21), o "La Reppublica" apontou um relatório com cerca de 300 páginas sobre o escândalo como estopim para Bento 16. 

"Não espere comentários, negações ou confirmações sobre este assunto". Essa foi a resposta do porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, quando foi questionado pelos jornalistas sobre o conteúdo do documento escrito pelos cardeais Julian Herranz, Salvatore De Giorgi e Josef Tomko.

Lombardi, durante coletiva de imprensa realizada nesta manhã, confirmou a existência do relatório entregue ao papa em dezembro de 2012. "A comissão fez o seu trabalho e entregou o relatório nas mãos do santo padre", completou o porta-voz.

O conteúdo do documento é sigiloso, mas, conforme o "La Reppublica", especula-se que os cardeais não mediram palavras para revelar casos de mau uso de dinheiro, disputas de poder, relações homossexuais dentro da Cúria Romana.

"Nós não estamos correndo atrás de todas as especulações, fantasias ou opiniões que são levantadas sobre a renúncia. E não espere por entrevistas com os três cardeais, porque a linha concordou em permanecer em silêncio e não divulgar informações sobre este tópico."

Antecipação do conclave

O porta-voz do Vaticano reiterou nesta quinta-feira (21) a possibilidade de Bento 16 publicar um "Motu Proprio" para antecipar o conclave e modificar algumas das regras relacionadas às orações e aos rituais da eleição do novo pontífice.

Mas, Lombardi esclareceu que o documento não irá mudar drasticamente o processo da votação. "Seria tocar apenas pontos de esclarecimento, não substanciais", destacou. Segundo ele, ainda não há prazo para a publicação do "Motu Proprio". 

A renúncia 

O papa Bento 16 anunciou sua renúncia no dia 11 de fevereiro em um discurso pronunciado em latim durante um encontro de cardeais no Vaticano. Ao justificar sua decisão, o pontífice de 85 anos alegou fragilidade por conta da idade avançada.

ENTENDA O PROCESSO SUCESSÓRIO DO PAPA

Quando o chefe da Igreja Católica renuncia a sua função ou morre, seu sucessor é eleito pelos cardeais reunidos em conclave na Capela Sistina, onde ficam isolados do mundo exterior.

Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave que se reunirá para eleger o sucessor do papa Bento 16. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 116 cardeais aptos a votar no conclave.

Para poder votar na escolha do papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.

"Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino", disse o papa.

O pontífice afirmou ainda que "no mundo de hoje (...), é necessário o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado". "Por esta razão, e consciente da seriedade deste ato, em completa liberdade, eu declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro", acrescentou Bento 16.
 
O Vaticano negou que uma doença tenha sido o motivo da renúncia. Mas, segundo o jornal "O Estado de S.Paulo", uma disputa interna de poder praticada por ex-aliados nos últimos meses pode ser uma das razões para a tomada de decisão do pontífice. Esta é a primeira vez na era moderna que um papa da Igreja Católica renuncia ao pontificado. 
 
A renúncia de bento 16 será oficializada no dia 28 de fevereiro. E o cargo ficará vago até a eleição do próximo papa. A expectativa é  que o Conclave de cardeais, eleja um novo papa ainda em março, antes da Páscoa. O Vaticano anunciou que a eleição deve começar entre 15 e 20 de marçoA data, no entanto, pode ser adiantada para o dia 10, caso os cardiais cheguem ao país. 
 
Cinco cardeais brasileiros deverão participar do conclave. Segundo a última lista do Vaticano, há um total de 116 cardeais aptos a votar no próximo papa. Para participar da papa, o cardeal precisa ter menos de 80 anos. O Brasil tem um total de nove integrantes no Colégio Cardinalício do Vaticano, mas quatro deles já ultrapassaram a idade limite.
 
Em sua primeira aparição pública desde o anúncio da renúncia, o papa Bento 16 disse que tomou a decisão "pelo bem da igreja". Bento 16 agradeceu pelo "amor" e apoio dos fieis.
 
"Queridos irmão e irmãs, como sabem, decidi renunciar ao ministério que o Senhor me confiou em 19 de abril de 2005. Faço isso em plena liberdade pelo bem da igreja, depois de ter rezado muito e após examinar minha consciência diante de Deus, ", declarou Bento 16 diante de um salão lotado com cerca de 10 mil pessoas no Vaticano, onde foi ovacionado.

'Hipocrisia religiosa' 

Leia mais sobre a renúncia

  • Filippo Monteforte/AFP

    Raio atinge a basílica de São Pedro no mesmo dia em que Bento 16 anunciou a renúncia

O papa Bento 16 denunciou durante a homilia da missa da Quarta-Feira de Cinzas "a hipocrisia religiosa" e a busca por "aplausos e aprovação".
 
Ainda no sermão, o pontífice defendeu que o "caminho penitencial" da Quaresma não deve ser feito pelo cristão sozinho, mas "juntos, irmãos e irmãs, na Igreja". Em seguida, citou as "divisões no corpo eclesial", a necessidade de fortalecimento da Igreja e defendeu que "viver a Quaresma numa mais intensa e evidente comunhão eclesial, superando individualismos e rivalidades, é um sinal humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes".
 
Em referência ao apóstolo Paulo, lembrou que ele "denuncia a hipocrisia religiosa, as atitudes que buscam aplauso e aprovação" e pediu que o testemunho mais incisivo do cristão é o de quem "não serve ao mesmo e ao público, mas ao Senhor". Ao final da homilia, Bento 16 pediu que os católicos iniciem a Quaresma "confiantes e alegres". (Com agências internacionais)